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Como é o meu blog e isso vai ficar para depois para as pessoas que se interessarem no tema lerem, lá vamos nós.
Você pode abordar essa questão da maneira, diria, que coloca a carroça na frente dos bois, achando a causa na tecnologia. A outra forma é tentar entender o contexto social que isso se apresenta e voilá, você tem uma explicação sólida. Essas são as formas mais comuns de lidar com esse problema e a gente sempre vai ter o "porque lá na Grécia" insira X problema social contemporâneo.
Qual o problema que eu vejo nessas abordagens em geral ? Sejamos sinceros e tentemos ter o mínimo de empatia com nós mesmos : o que a gente faz com isso ?
Acho eu que é o maior elefante da sala do neomarxismo que tenta se desprender do marxismo-leninismo. Vamos supor que nós sejamos os maiores leitores do Lênin, Mao Zedong, Ho Chi Min e cia, e ainda por cima, somos foda, sabemos achar problemas e traçar críticas às suas obras - a beleza é que no final do dia vamos ter alguma discussão prática ou pelo menos o trabalho mínimo de uma construção de prática.
Enquanto o grande leitor de Debord, Lasch, Byung Chul Han, Zizek, Fisher e insira algum autor obscuro da psicologia, no final do dia ele só vai te incentivar a fumar, tomar café e sei lá, fazer um jardim, ficar vendo pornografia. (Fora o anticomunismo maluco e um ódio às massas e sua capacidade revolucionária)
Pois é, vivemos num inferno capitalista maluco que é difícil de compreender e que faz a nossa vida escapar do nosso controle. É maravilhoso ouvir uma tese cheia de voltas e idas, com um monte de aporte teórico e várias referências de grandes pensadores - amigo, isso vai fazer a fome passar, a tristeza, a vontade de acabar com tudo ?
A grande tese hoje é que a gente tá viciado em tecnologia e que a culpa é nossa. Isso é basicamente dizer que o viciado em crack produz crack no seu corpo e que ele tem uma moral ruim, por isso escolheu virar um viciado. É absurdo.
Nós precisamos compreender o seguinte : o que causa um desentendimento (um problema muito comum online e fora) ? Em termos linguísticos, uma falha de compreensão de algo em comum - o significado.
O significado é o código, é como um jogo. Quando você vai para a escola, lá você tem uma língua específica, um comportamento, regras específicas. Quando você está com X pessoa seu comportamento muitas vezes é diferente quando você está com pessoa Y.
Isso é normal, é a maneira que a gente encontrou de se comunicar, de socializar, isso está no cerne dela. Na internet, as pessoas por vezes não estão no mesmo jogo.
Vamos supor que você esteja numa comunidade para relaxar, conversar, etc. Aqui você tem um tipo de comportamento muito específico. Sei lá, hostilidade por exemplo, não é uma linguagem que você vai usar nesse espaço, você vai tentar ser mais amigável.
Há quem vai entrar num mesmo espaço só para trollar quem estiver lá, há quem só quer brigar, há quem só queira que seu ego seja massageado, etc. E assim, isso vai longe, e os jogos que a moderação da comunidade joga, se a gente adicionar as plataformas ao mix, a coisa se torna ainda mais complexa.
Toda essa história de individualismo maluco do neoliberalismo, essa mentalidade de mercenário corno, as questões que incorporam raça, gênero, etc, os problemas subjetivos e tal, tudo isso é só agravante para essa situação que eu descrevi.
Nós temos comunidades e situações que em algum grau escapam da lógica infinita do lucro. Grupo de amigos que seja, grupo de universidade, grupo sei lá, da bagunça como algumas pessoas têm. Mesmo nesses espaços essa confusão entre os jogos de linguagem acontece.
É, importa toda aquela complexidade descrita por longos livros neomarxistas. Alienação, comodificação da vida, etc, etc, questão fálica da psicologia, etc. Tudo muito bom e belo, para dizer que devemos parar de usar a internet.
Oras meus caros, voltemos a usar cartas então. Me poupe né. Qual a grande questão posta aqui ? Comunicação, e por que descartar a tecnologia de comunicação ? Devemos nos educar, é a educação que tem a função de criar novos jogos de linguagem e de melhorar a nossa capacidade de socializar.
É um processo, vai ser difícil. E ainda vai ter problemas, mas é o caminho que vai construir uma solução. Muito melhor que ficar "ah porque a psique". Gente, temos que notar o seguinte: essas teses neomarxistas pós-modernas são as primeiras a denunciar que há o fetiche da teoria, que a gente se perdeu em sei lá o que, etc.
É muito conveniente para a filosofia burguesa, em um primeiro instante incorporar as nossas teses, criar teses novas e criar uma filosofia de pura especulação mental. Se é especulação, não tem fim, mas não tem fim, não porque existe uma novidade, mas porque sempre tem a capacidade de ficar rodando em torno do próprio rabo com teses ultra complexas que só meia dúzia de filósofos vai estudar.
Então, o interesse de um Zizek, por exemplo, quando critica prazer, não é nem fazer o debate para uma questão importante em relação ao prazer, é no final do dia, comparando com trabalho de mercenário/prostituta, de aparecer, se manter relevante.
Falar e falar, até morrer. É fácil identificar com o que eu expliquei, que o Zizek tem uma agenda, que as plataformas tem uma agenda, e assim segue e acontecem conflitos, acordos, é política, disputa de poder.
Para as plataformas é lindo a gente debater até cansar e nunca chegar num consenso mínimo. Você fica no site, recebe anúncio.
E aqui eu encerro. É inútil conversar online e a gente só muda isso, criando uma nova prática, estabelecendo um novo jogo de linguagem.
É preciso uma nova internet.
