Essas semanas eu passei longe da internet, ou dos debates online. Por uma série de razões que não pretendo mencionar. E aqui vou dar meu pitaco de graduanda de ciências sociais, que acaba lendo um Marx acadêmico, estruturalismo/pós-estruturalismo, funcionalismo, positivismo, etc, etc - e lendo uma versão do marxismo-leninismo, em Lênin, Mao, Stalin e cia, até alguns textos anarquistas, de uma tradição mais radical. Isso importa porque eu acabo ficando meio que na encruzilhada, acaba que eu leio as coisas.
É interessante observar uma questão em relação aos textos, de uma forma geral, todo teórico, por viver no capitalismo ou por estar disputando poder como qualquer pessoa nessa sociedade, acaba tendo uma certa necessidade de tentar convencer você, leitor, que ele está certo e portanto, ele precisa te convencer que está certo para que você espalhe a palavra dele.
Veja, eu estou fazendo isso agora, vou usar uns argumentos, vou desenhar como isso funciona, blabla. Todo autor precisa ser lido a partir de sua biografia e seu contexto histórico, e a sua leitura precisa ser capaz de diferenciar quando está lendo o autor ou seus seguidores. Por exemplo, Lênin é uma coisa, Durkheim é outra radicalmente diferente.
Lênin é um líder político, intelectual, que vivia num país de “terceiro mundo”, a Rússia czarista era basicamente um grande império que existia para garantir a exploração dos recursos da Rússia para as potências estrangeiras. Ou seja, quando Lênin escreve sobre imperialismo, é num contexto político, de que essa exploração estrangeira é parte central da reprodução capitalista na Rússia e uma das razões para em pleno século XX essa mesma Rússia mal ser eletrificada ou industrializada.
Você aí, que nunca leu nada de Lênin, ou que sei lá, acha “muito rígido”, “muito autoritário” não pode chegar numa discussão e querer dizer que Lênin estava errado sem ter lido o texto. Ou sem considerar a biografia de Lênin, a sua trajetória política, etc, etc. Veja, você tem que pôr em contexto, que ele era perseguido, passou boa parte da vida exilado no exterior, teve que lidar com uma guerra civil, precisou brigar internamente no partido e ainda por cima, precisou dirigir um Estado.
É óbvio, chega a ser no mínimo infantil, querer cobrar de Lênin que ele seja menos assertivo, “menos autoritário”, mais bon vivant das ideias. Isso é ler Lênin, outra coisa é a leitura que se faz de Lênin. Uma coisa é o PCB dos anos 60 usando a ideia de centralismo democrático para calar a fração radical do partido, outra é Mao Zedong no mesmo período lendo Lênin construindo a revolução cultural. É o mesmo autor, mas lido de formas diferentes.
Isso diz mais do leitor ou do autor que escreveu o texto ? Uma coisa é o professor universitário cansado, que foi estudante na ditadura, que cansou de ver partido comunista brasileiro morrendo, sendo perseguido, errando e se deixando levar pelo liberalismo. É claro que ele vai ler um Marx, muitas vezes, mais liberal, mais democrático reformista, ou até vai dizer que “Marx errou”. Agora, nós aceitamos essa leitura ? Lendo objetivamente, isto é, ler o texto, considerando a trajetória histórica de Marx, etc, etc, é uma leitura objetivamente errada.
Mas é uma leitura que vem num contexto de Brasil, num contexto de guerra fria e de cooptação da esquerda para administração do capitalismo. Esse autor brasileiro, de uma forma geral, por não ser militante político, por não ser organizado, por ter passado por poucas e boas na história do Brasil, por precisar pagar suas contas, ele com certeza vai ter um texto muito diferente de Marx e Lênin. É outra realidade social.
Falando mais de Brasil, por isso existe uma diferença tão brutal, de quem é estudante e militante, de quem é militante em sindicato, do quilombola, do militante de ocupação, do universitário, do professor universitário, etc. Objetivamente são realidades paralelas. Uma coisa é o aluno cotista fudido que mal tem passagem de ônibus para ir para aula, outra é o professor que vem de Uber, outra é o aluno da medicina que o pai traz ele. E tem gente que nunca nem pisou na universidade, ou num quilombo !!
Por que a gente é tão sectário ? Porque a gente vive em realidades sociais tão distintas, que claro, o professor velho vai cair nessa história de que “identitarismo” é um desvio pequeno burguês, sla , etc, bla bla - Muitas vezes essa pessoa NUNCA TEVE CONTATO com pessoas LGBTQIA+, e por isso muitas dessas vezes,o que sobra é o estereótipo, não uma pessoa que sofre no capitalismo, ou uma pessoa com emoções, etc, etc.
Fica difícil criar laços de solidariedade - tanto pessoas velhas, como pessoas LGBTQIA + sofrem nas mãos das comunidades terapêuticas, se houvesse (ou se há) mais interação entre esses dois grupos, pronto você já tem uma pauta em comum para construir uma luta.
O que acontece geralmente é o seguinte : fulaninho diz que a causa dele é a mais importante de todos, que o outro não segue tá errado. E veja, o problema é não tratar as coisas de forma científica e ficar usando palavras de ordem sem critério nenhum.
Por isso que o critério é literalmente estético, subjetivo, de quem vai ser o “grande líder da esquerda” - Quem é mais de “esquerda”, isto é quem se parece de esquerda mais do que os demais. Por isso tem concurso de quem é mais Jesus, por isso tem competição de quem é o mais radical, do mais formado e etc, etc, et. É uma esquerda desconectada da realidade, que não tem penetração social e que internamente é muito hostil a si mesma, sob égide de uma suposta autocrítica, só que sem critério científico nenhum.
O que, por exemplo, é o meu maior receio de me organizar é, não só toda a perseguição política que isso desenrola, mas o quanto internamente, dentro da organização, eu vou ser também acolhida, quanto isso vai trazer para minha vida alguma MUDANÇA MATERIAL.
Sim, eu sou uma porca materialista. Eu me preocupo com o fato de entrar nessa e só me ferrar (como já me aconteceu por sinal). Isso não é para tirar o ânimo de quem é organizado ou vai se organizar, mas é para apontar de que nada adianta a gente juntar e fazer essas organizações, se elas não são lugares de acolhimento - E não só mais um espaço social de gente devorando uns aos outros na cadeia alimentar (a gente já precisa aturar muito disso por toda parte).
É interessante observar uma questão em relação aos textos, de uma forma geral, todo teórico, por viver no capitalismo ou por estar disputando poder como qualquer pessoa nessa sociedade, acaba tendo uma certa necessidade de tentar convencer você, leitor, que ele está certo e portanto, ele precisa te convencer que está certo para que você espalhe a palavra dele.
Veja, eu estou fazendo isso agora, vou usar uns argumentos, vou desenhar como isso funciona, blabla. Todo autor precisa ser lido a partir de sua biografia e seu contexto histórico, e a sua leitura precisa ser capaz de diferenciar quando está lendo o autor ou seus seguidores. Por exemplo, Lênin é uma coisa, Durkheim é outra radicalmente diferente.
Lênin é um líder político, intelectual, que vivia num país de “terceiro mundo”, a Rússia czarista era basicamente um grande império que existia para garantir a exploração dos recursos da Rússia para as potências estrangeiras. Ou seja, quando Lênin escreve sobre imperialismo, é num contexto político, de que essa exploração estrangeira é parte central da reprodução capitalista na Rússia e uma das razões para em pleno século XX essa mesma Rússia mal ser eletrificada ou industrializada.
Você aí, que nunca leu nada de Lênin, ou que sei lá, acha “muito rígido”, “muito autoritário” não pode chegar numa discussão e querer dizer que Lênin estava errado sem ter lido o texto. Ou sem considerar a biografia de Lênin, a sua trajetória política, etc, etc. Veja, você tem que pôr em contexto, que ele era perseguido, passou boa parte da vida exilado no exterior, teve que lidar com uma guerra civil, precisou brigar internamente no partido e ainda por cima, precisou dirigir um Estado.
É óbvio, chega a ser no mínimo infantil, querer cobrar de Lênin que ele seja menos assertivo, “menos autoritário”, mais bon vivant das ideias. Isso é ler Lênin, outra coisa é a leitura que se faz de Lênin. Uma coisa é o PCB dos anos 60 usando a ideia de centralismo democrático para calar a fração radical do partido, outra é Mao Zedong no mesmo período lendo Lênin construindo a revolução cultural. É o mesmo autor, mas lido de formas diferentes.
Isso diz mais do leitor ou do autor que escreveu o texto ? Uma coisa é o professor universitário cansado, que foi estudante na ditadura, que cansou de ver partido comunista brasileiro morrendo, sendo perseguido, errando e se deixando levar pelo liberalismo. É claro que ele vai ler um Marx, muitas vezes, mais liberal, mais democrático reformista, ou até vai dizer que “Marx errou”. Agora, nós aceitamos essa leitura ? Lendo objetivamente, isto é, ler o texto, considerando a trajetória histórica de Marx, etc, etc, é uma leitura objetivamente errada.
Mas é uma leitura que vem num contexto de Brasil, num contexto de guerra fria e de cooptação da esquerda para administração do capitalismo. Esse autor brasileiro, de uma forma geral, por não ser militante político, por não ser organizado, por ter passado por poucas e boas na história do Brasil, por precisar pagar suas contas, ele com certeza vai ter um texto muito diferente de Marx e Lênin. É outra realidade social.
Falando mais de Brasil, por isso existe uma diferença tão brutal, de quem é estudante e militante, de quem é militante em sindicato, do quilombola, do militante de ocupação, do universitário, do professor universitário, etc. Objetivamente são realidades paralelas. Uma coisa é o aluno cotista fudido que mal tem passagem de ônibus para ir para aula, outra é o professor que vem de Uber, outra é o aluno da medicina que o pai traz ele. E tem gente que nunca nem pisou na universidade, ou num quilombo !!
Por que a gente é tão sectário ? Porque a gente vive em realidades sociais tão distintas, que claro, o professor velho vai cair nessa história de que “identitarismo” é um desvio pequeno burguês, sla , etc, bla bla - Muitas vezes essa pessoa NUNCA TEVE CONTATO com pessoas LGBTQIA+, e por isso muitas dessas vezes,o que sobra é o estereótipo, não uma pessoa que sofre no capitalismo, ou uma pessoa com emoções, etc, etc.
Fica difícil criar laços de solidariedade - tanto pessoas velhas, como pessoas LGBTQIA + sofrem nas mãos das comunidades terapêuticas, se houvesse (ou se há) mais interação entre esses dois grupos, pronto você já tem uma pauta em comum para construir uma luta.
O que acontece geralmente é o seguinte : fulaninho diz que a causa dele é a mais importante de todos, que o outro não segue tá errado. E veja, o problema é não tratar as coisas de forma científica e ficar usando palavras de ordem sem critério nenhum.
Por isso que o critério é literalmente estético, subjetivo, de quem vai ser o “grande líder da esquerda” - Quem é mais de “esquerda”, isto é quem se parece de esquerda mais do que os demais. Por isso tem concurso de quem é mais Jesus, por isso tem competição de quem é o mais radical, do mais formado e etc, etc, et. É uma esquerda desconectada da realidade, que não tem penetração social e que internamente é muito hostil a si mesma, sob égide de uma suposta autocrítica, só que sem critério científico nenhum.
O que, por exemplo, é o meu maior receio de me organizar é, não só toda a perseguição política que isso desenrola, mas o quanto internamente, dentro da organização, eu vou ser também acolhida, quanto isso vai trazer para minha vida alguma MUDANÇA MATERIAL.
Sim, eu sou uma porca materialista. Eu me preocupo com o fato de entrar nessa e só me ferrar (como já me aconteceu por sinal). Isso não é para tirar o ânimo de quem é organizado ou vai se organizar, mas é para apontar de que nada adianta a gente juntar e fazer essas organizações, se elas não são lugares de acolhimento - E não só mais um espaço social de gente devorando uns aos outros na cadeia alimentar (a gente já precisa aturar muito disso por toda parte).
(pela amor, não estou falando nem numa unidade prática/teórica, mas de ser mais legal uns com os outros - bora crescer ? S2)