Usem drogas (com prescrição) : a luta pela mente

A mente é um espaço de luta política. Manter um grande contingente da população doente mentalmente, desgastada, isolada, cansada, sem capacidade de se organizar e criar laços com outras pessoas é uma estratégia política.

Ou você realmente acha que é sem propósito atacar os serviços públicos ? Quem usa (e quem lutou) por esses serviços foi a população trabalhadora, é ela que usa os hospitais, o transporte, as escolas - se hoje existe um desgaste desses ambientes é por uma questão de luta de classes.

É fazer com que nós, os inimigos da burguesia, estejamos enfraquecidos, vulneráveis à política de extermínio e reprodução do capital. Então, ter uma doença mental, entre várias problemáticas, ter a mente como um campo de disputa política.

Você não desenvolve uma doença sem as condições ambientais, a doença não é nada mais do que uma relação dialética do seu corpo com o ambiente. Se você se cai no chão e se machuca, isso é resumidamente, a relação do seu corpo com o ambiente, isto é, o chão escorregadio, uma pedra ou raiz que você não viu e tropeçou, a gravidade, etc

A mente não é uma instância separada do corpo, com ela não é diferente. Você adoece de forma muito parecida com a cabeça. Desemprego, falta de perspectiva de estudos, falta de ambientes sociais para frequentar, etc, tudo isso ajuda doenças como a depressão aparecerem.

Existe uma certa noção, até meio infantil, que se alienar é inerentemente ruim. Eu discordo. Se a mente é um espaço de luta, se ela é tão disputada, no sentido de que, se cria uma educação voltada para isso, se cria peças e mais peças de propaganda para tal, se usa dos mais diversos tipos de manipulação, nós precisamos começar dar mais importância para a luta que acontece pela a nossa cabeça.

A ideologia dominante mobiliza pessoas, move recursos, faz coisas que afetam nossa vida gostemos ou não. Por isso, pensar estratégias contra isso é tão importante.

Nisso a terapia, seja com remédio ou sem, se combinada com organização, com a criação desses espaços sociais, pode ter sim um efeito revolucionário. Não que a terapia em si, também não tenha um papel nessa alienação social, mas que as ferramentas que a terapia nos oferece pode ser de grande ajuda nessa luta pela mente.

Então, mesmo que você não tenha uma organização ou não saiba muito o que fazer, é importante ter em mente que você precisa entender a si mesmo. É preciso disso para conseguir lidar com as outras pessoas, para saber conviver, separar as convicções e problemas individuais, e construir soluções coletivas.

Por exemplo, tem gente que acha que não pode confiar em ninguém ou que as pessoas são sempre ruins. Isso é claramente uma pré-concepção baseada em experiências pessoais, que na maioria das vezes nem tem uma base científica.

Separar uma desconfiança pessoal, psicológica, de uma compreensão científica, materialista, é importante para não ficar criando intrigas internas.

Tem pessoas, por exemplo, que têm um problema muito grande com ansiedade. Se você trabalhar isso com terapia, com medicação, você pode controlar melhor essa questão.

É muito importante nós estarmos bem se quisermos ter um espaço acolhedor para a população e para os nossos militantes. O nosso espaço precisa ser atrativo também nesse sentido.


Por isso que, de um lado, eu acho que a gente precisa entender o papel de manter todo mundo dopado, doente, viciado, como uma estratégia contra-revolucionária. Não é à toa a ligação de certos serviços de inteligência com tráfico de drogas. Ela tem essa função de financiar organizações e oligarquias anticomunistas, de adoecer todo mundo e dificultar a organização política.

Por outro, é importante que a gente entenda a importância de cuidar do corpo e a mente não é uma coisa separada disso. De nada adianta fazer malhação, sem cuidar da cabeça.

Nisso eu acho que a terapia, e eu tô falando da psiquiatria também, tem um papel central em manter a gente estável. Uma coisa que eu também acho importante é o papel que a arte tem.

Se engana quem acha que comunista não tem que se divertir. A gente tem que rir, tem que fazer música, ver filmes, apreciar quadros, fazer memes, etc. Ocupar a mente com uma coisa que não é trabalho, em si, já é uma coisa revolucionária.

Por isso eu já defendi que uma forma da gente melhorar a nossa organização e inclusive, atrair novas pessoas, seria participar da organização de festas populares. A ideia é que para fazer uma festa existe uma série de logísticas, administração, etc, que ajudaria a gente melhorar a nossa organização como movimentos sociais.

Existe uma curva de aprendizado para uma organização.

A grande questão é entender que o nosso corpo já é manipulado, modificado, mutilado, para ser uma força de trabalho para criar valor e reproduzir capital. O que a gente precisa fazer é pegar essas ferramentas e usá-las para os nossos fins.

Uma foice não é uma arma, o martelo também não é necessariamente, o que a gente precisa fazer, é entender ferramentas como a terapia, como a arte, como a tecnologia, etc, como armas para a revolução.

Se a gente muda nosso corpo para o trabalho, por que não mudar para lutar por uma revolução ?

Ghost