anticomunismo de esquerda brasileiro.


(ps: eu nem sei que caralhos de título colocar) 
 
Eu vou soar muito aquelas comunistas linha-dura que sai chamando todo mundo de revisionista, mas a questão aqui, principalmente quando falamos em Brasil, é que de fato, é difícil você não encontrar mesmo à nossa esquerda posições conservadoras.

Por exemplo, quando a gente fala das questões chamadas identitárias, envolvendo raça, gênero, nacionalidade, etc, para gente que leu sobre a balcanização e que gente, tem a informação, não é como se não soubesse, comunista brasileiro é tarado pelo leste europeu (eu também, só para não dizer que eu sou tão diferente nisso), como que as pessoas não conseguem enxergar que a função de fomentar os mais diferentes tipos de preconceitos serve para dividir a classe trabalhadora ?

Veja, não é preciso ser um grande gênio ou ler tanto sobre teoria queer, anti-racismo, etc, para ter o mínimo de compreensão nisso para pelo menos fazer um esforço para lutar contra essas formas de discriminações. É até esperado que o militante médio reproduza alguns preconceitos da sociedade em geral, nós não somos idealistas. Mas aí eu fico pensando, existe internamente uma postura de mostrar, mesmo para esse militante “anti-identitário”, que não existe uma separação, por exemplo, das questões de raça da luta de classes.

Desde que o Brasil é Brasil, colocar o negro numa posição de inferioridade racial, seja por justificativa religiosa ou supremacista branca, sempre serviu como uma forma de legitimar o genocídio negro, colocar todo negro em posição de escravizado, em profissões de menor prestígio e de excluir ele de espaços de decisão política.

Existe controvérsia nisso que eu falei ? Discordar dessa posição é literalmente racismo, mas principalmente, é negacionismo histórico. Houve escravidão no Brasil, existem trabalhos e mais trabalhos que mostram isso.

É negacionismo, principalmente no Brasil, negar a questão da raça como sendo uma coisa essencial para a luta política no Brasil. Esse é um exemplo, eu poderia discorrer nas mais diferentes minorias e explicar exaustivamente como cada aspecto delas pode representar uma libertação para todos, mas eu não vou fazer isso, porque não é exatamente isso que eu quero fazer com esse texto.

Existe também, um outro motivo pro militante “anti-identitário” querer ficar falando que racismo não importa, que gênero é auê, etc, etc. Claro, é preconceito internalizado, é - só que é também ele achar que o que ele faz é a coisa mais importante do mundo e que os outros não “militam direito”. Sempre tem essa postura de que o outro, não está fazendo a militância “do jeito certo”, e isso de alguma forma, tornaria a militância desse outro menos válida.

Veja, aqui a gente nem está falando de uma postura exclusiva do “anti-identitário”, mas de uma postura generalizada da esquerda brasileira, incluindo o “campo democrático”. Um exemplo claríssimo disso é a questão de “estar ou não na institucionalidade”. Geralmente a postura de quem está fora é de ficar denunciando reformismo, de dizer que fulano se vendeu, que tá tudo dominado e tal - e quem está na institucionalidade não dá muito valor para movimentação popular, para organização política da classe trabalhadora, não raro é quem fica contra manifestações populares, etc, etc.

Tanto uma estratégia como a outra tem seus méritos e defeitos, o erro na minha opinião é não combinar ambas para ter um movimento mais forte. Mas note que a militância do outro é sempre a errada, é sempre quem atrapalha, “o errado é quem não me segue”. O problema é que isso cria umas disputas internas na esquerda, até mais virulentas do que a contra a direita, que faz com que boa parte do tempo de algumas pessoas seja criticando a esquerda e sendo chato pra kct.

O que acontece muitas vezes é que tem grupos muito mais abertos a conciliar com grupos religiosos reacionários, com partidos burgueses fisiológicos sem nenhum compromisso nacionalista, conversar com setores reacionários, etc, etc, do que sentar para conversar com outro grupo de esquerda.

Eu nem estou dizendo que é inválido você tentar cooptar setores da direita, mas que é menos trabalhoso você sentar para discutir uma ação com a própria esquerda que defende as mesmas coisas.

Como boa nietzscheana eu tenho minhas máximas, uma delas é que eu acho mais fácil qualquer outro país do mundo conseguir fazer uma revolução socialista do que o Brasil. É capaz do Brasil ser o último país capitalista do mundo enquanto o resto do planeta já tenha adotado o comunismo. Por que eu digo isso ? É um exercício de observar que para você ter o mínimo de acesso e exposição de qualquer ideologia de esquerda no Brasil, dentro dessa mesma discussão, você ouve pelo menos uns 10 argumentos dentro da própria esquerda contra a esquerda.

É impossível conversar com anarquistas sem ouvir mil coisas contra os comunistas, impossível ouvir uma linha comunista sem que essa linha queira deslegitimar a outra e por aí vai. Por isso, nós somos tão infrutíferos e temos tanta dificuldade de tomar ações mais complexas, mais bem coordenadas, etc, etc.

É interessante observar que, mesmo com o fascismo vivinho da silva e pronto para tomar o mundo novamente, ninguém consegue largar um pouco o lado liberal de querer liderar tudo e querer sair brigando por aí. Tudo o que eu disse aqui é bem senso comum, inclusive peço desculpa por descer tanto o nível do texto, então assim, é difícil para mim não acreditar que é má vontade.

Eu venho diminuindo bastante meu contato presencial/uso de rede social, justamente porque eu sinto que tem alguns espaços sugando minha energia toda. Me desanima muito o estado das coisas, justamente, porque você não consegue gastar 2 minutos aqui na internet para ver que todo mundo ficou bem niilista de merda.