DOC 008 : Jones Manoel, ou o intelectual público.

Mandem esse gif para suas mães.

É muito claro que Jones nos últimos tempos vem tentando se estabelecer entre Sartre, Abdias Nascimento e Darcy Ribeiro.

Ele mesmo admite que vem fazendo vídeos mais conjunturais com um propósito claro de tentar ganhar um espaço político. A sua produção intelectual escrita também segue uma tendência de tentar estabelecer um tipo de autoridade. De mostrar que ele tem capacidade de fazer política e “sabe o que fazer”.

Tanto que nos últimos anos, especialmente no governo Lula, ele anda fazendo muitas proposições do que fazer.

O que fez ele mudar de direção, não sei exatamente, mas é claro que ele quer estabelecer uma oposição de esquerda ao petismo, espaço que antes era ocupado pelo PDT e pelo PSOL (que hoje basicamente compõe o governo junto do PT).

É uma tática que tende a funcionar ? Sei lá, a única coisa que me incomoda é a capacidade de Jones executar o que propõe. Veja, gostemos ou não do PT, a questão que hoje, por serem um partido tão grande e que ocupa várias esferas de poder diferentes, apesar dos tiques liberais, o PT é o único partido de esquerda com capacidade de executar o que propõe, por mais rebaixado que seja.

O problema do PT não é tanto Lula, a questão é que a esquerda de uma forma geral, tem uma dificuldade gigantesca de organizar as pessoas, colocar elas para militar de forma mais dedicada, de ocupar outros espaços também fora da institucionalidade e isso dificulta muito fazer mesmo políticas de esquerda recuadas.

Existe um medo do povo, justamente porque hegemonicamente não existe um
“progressismo mínimo” geral na população. É no mínimo uma ingenuidade acreditar que fazer política pública é sempre algo de caráter de esquerda, a direita faz e faz muito mesmo que não admita.

Por isso, quando o PT quer conquistar novos eleitores, ele recua. Porque ele não se propõe a combater o conservadorismo, ele quer justamente compor com os conservadores. Basta a gente ver a postura de Boulos (que quer ser prefeito com apoio do PT) ele evita “parecer radical” e quer se tornar alguém mais palatável para eleitores conservadores - digo, empresários que vão financiar a campanha.

E assim, é muito claro que o PT, olhando assim para a maioria dos partidos de esquerda, não tem necessariamente aquele velho marxismo estudado, sistematizado, o PT não tem mais os intelectuais de antigamente (e o que não falta é ex-petista frustrado com o caminho do PT, seja na academia e mesmo na política, o que são partidos como PCO, PSTU, PSOL, dos que racharam em 2003...) e tem uma dificuldade enorme de fazer novas lideranças.

É possível acreditar que o PT faz o que faz, acreditando que é muito radical na esquerda.Que desses programas liberais vai sair alguma revolução. A questão é que o PT não supera o liberalismo ensinado desde o berço, mas tem, digamos, intenções de fazer um programa de esquerda. O liberalismo tem uma certa tradição popular também.

O Brasil tem uma situação muito interessante : o maior partido que é considerado de esquerda é no máximo social-democrata, esse é o “campo democrático” - Enquanto a esquerda radical muitas vezes está mais preocupada em brigar para ver quem é mais radical e tem muita dificuldade de se coordenar politicamente.

E veja, como a esquerda radical tem dificuldade de fazer política, muitas vezes, ela depende que o “campo democrático” faça algumas políticas para que eles tenham minimamente um espaço para militar. Só que o “campo democrático” não quer que essa esquerda mais radical cresça, justamente porque ela disputa a mesma base.

Isso é uma razão para o PT não avançar tanto, ao mesmo tempo que existe sim uma limitação ideológica de se fazer política. No final das contas, “o campo democrático” acaba servindo muito mais como uma limitação para uma esquerda radical que tem dificuldade de sequer se estruturar.

Será que a gente tem esse tempo para recolher as nossas partes ? Veja, eu entendo Jones tentando puxar a janela de Overton para a esquerda e tentando reviver os fantasmas do trabalhismo e do nosso movimento comunista.

Hoje a coisa que mais me incomoda, tanto de forma pessoal, como política, é que não existe a ideia mínima de que se você se organizar em grupo, você consegue fazer muito mais coisas do que sozinho. A gente precisa dizer o óbvio : vivemos em sociedade.

Todo mundo age como se fosse um John Wayne, o problema é que alguns cowboys atiram com metralhadoras enquanto outros têm estilingues.

Num mundo que todo mundo quer chegar no topo da pirâmide, vence quem já começa no topo. É literalmente uma questão de quem tem mais força e o jogo não começa bem para o nosso lado.

Eles já começam na frente, porque eles têm capacidade de coordenar politicamente a sociedade através do dinheiro. Até a gente convencer o militante para panfletar, eles conseguem pagar um monte de pessoas para fazer a mesma coisa e sem precisar convencer ninguém.

O dinheiro tem esse caráter fetichizado, essa propriedade quase mágica de tornar material o que era só uma ideia. Hoje, se você tem dinheiro, você tem capacidade de fazer praticamente qualquer coisa, não precisa tanto convencimento quanto um debate público.

A única língua universal da burguesia é o dinheiro, se você não se parece com dinheiro, você não vai conseguir fazer nada. Lula com certeza entendeu isso muito bem.

Veja eu não estou querendo condenar o PT, nunca foi compromisso do PT ser socialista, a questão que eu quero apontar, é que não basta fazer uma boa crítica.

A questão central, minimamente, como que a gente pode fazer política, ou seja, como que nas condições atuais nós podemos construir um movimento capaz de direcionar um embate político para a revolução ?

A revolução, e nisso concordo com Jones, não é algo para o futuro, da mesma forma que quando contamos história não estamos falando do passado, quando desenhamos um futuro estamos expressando nossos desejos do presente.

Veja, nós precisamos superar aparatos organizativos do tamanho do mundo. Por acaso, você já trabalhou numa empresa grande ? Ou já observou alguma repartição pública ? Um hospital ? Uma prisão ?

Não é um bom discurso, uma análise perfeita da realidade que faz uma empresa funcionar, é justamente essa organização social - essa engenharia social. Você cria processos na sociedade que não precisam de convencimento ideológico, pode até ser que existam pessoas que fazem as coisas por convicção, mas a questão é que a sociedade é organizada de tal forma, que pouco importa o que alguém individualmente acredita. Por isso todo lugar existe essa sensação generalizada de castração, de apatia, nós nos sentimos pequenos num mundo desse.

A nossa grande vantagem é a capacidade de racionalizar isso, de tomar nas nossas mãos a capacidade de direcionar o nosso caminho como classe.

Enquanto o que a gente chama de “sistema”, funciona quase que de modo irracional, como uma máquina, nós temos uma capacidade de compreender esses processos “irracionais” e através da ciência construir algo completamente novo.

É sobre entender como funciona, por exemplo, a matéria física do metal, para forjar a ferramenta que precisamos para sobreviver. O trabalhador consegue fazer isso, que burguês consegue fazer algo desse nível ? A questão é que eles têm o poder político, eles têm recursos, eles privatizaram tudo e tornaram a propriedade privada sagrada para ter controle sobre tudo. Nós somos obrigados a servir eles porque não temos mais nada.

Nós temos plena capacidade de transformar o mundo, não por uma questão metafísica qualquer, é material, nós que trabalhamos, nós que fazemos as coisas.

Quem sabe cozinhar, caçar, plantar, por exemplo, tem mais capacidade de sobreviver na natureza, nós só temos essa dificuldade porque nós somos espoliados. Pergunte para o vendedor de seguros telemarketing se ele tem um seguro, pergunte para a cozinheira de um restaurante se ela come tanto quanto ela cozinha, pergunte a si mesmo se o que você faz fica com você ?

O pulo do coelho está aí. Repito o que já disse num outro texto, e vejo que existe um certo consenso, Jones anda muito trotskista, isto é, ele sabe agitar, é popular, tem discursos muito bons, até tem uma consistência teórica, mas na hora de fazer as coisas, age de forma extremamente idealista.

A organização popular e a revolução sozinhas não vão nos salvar, no dia 2 da revolução tudo vai precisar ser construído para ter capacidade de servir ao povo e olhe lá, pode ser que a gente fracasse, pode ser que demore para gente chegar lá, a questão é que a realidade não se faz sozinha, nós precisamos tomar nas nossas mãos o nosso destino, só assim temos alguma chance mínima de sobrevivência.

Se o que dizem sobre a "conspiração trotskista contra URSS" é verdade, mesmo essa conspiração precisou se organizar, ganhar informação, trabalhar com hierarquias, burocracias, códigos, etc. Veja, eu não condeno Sr. Trotsky por supostamente ter feito isso, na verdade, devemos admirar a capacidade do trotskismo ter se tornado sozinho uma nova linha política, essa capacidade criativa no mínimo deve ser reconhecida e a gente precisa criar a nossa - Uma linha brasileira do marxismo, e Sr. Jones contribui para isso e espero que ele consiga criar o marxismo-nordestino...

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