Partido dos Trabalhadores à direita ?

Eu vou assumir aqui uma postura de que você, meu caro leitor, saiba a importância da memória histórica. Se não souber, eu recomendo o João que ele explica nesse vídeo e leu uns textos da AND e do A Verdade sobre o tema.

O que eu quero abordar é mais a questão do que a gente está vendo, qual é o movimento político que o PT está apresentando ? Para isso, eu vou me usar de uma citação de uma matéria do jornal Bahia notícias, ela segue assim : 


"Durante uma reunião da federação em Salvador, na última quarta-feira (13), um questionamento causou embaraço aos membros partidários. Segundo presentes no encontro revelaram ao Bahia Notícias, um quadro da federação questionou sobre a permanência de André Fraga no PV. Uma das fontes relatou ao BN que a saia justa fica por conta da postura de outros vereadores da Federação Brasil da Esperança com matérias apresentadas pelo Executivo Municipal. "E Suíca (que é do PT), que vota com [o prefeito que foi vice de ACM Neto, vice presidente nacional do União Brasil] Bruno Reis às vezes? E Tiago Ferreira? O próprio Hélio Ferreira, do PCdoB", disse um integrante em condição de anonimato.
 
Os exemplos de "adesão velada" à gestão, que não passam necessariamente por votação em Plenário, foram citados à reportagem, incluindo durante reuniões conjuntas da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara de Vereadores. Um dos casos relatados ao Bahia Notícias por vereadores é sobre a apresentação de um relatório no colegiado, presidido por Paulo Magalhães, do União Brasil. Durante a leitura de um parecer, Suíca pareceu "muito empenhado" em acompanhar o relator, mesmo com questionamentos de colegas de oposição sobre a matéria em questão. O movimento causou estranheza inclusive em seus correligionários petistas." LEIRO, G. L. /. Adesão de vereadores do PT a projetos de Bruno Reis “dá fôlego” para André Fraga continuar no PV. Disponível em: <https://www.bahianoticias.com.br/noticia/290200-adesao-de-vereadores-do-pt-a-projetos-de-bruno-reis-da-folego-para-andre-fraga-continuar-no-pv>. Acesso em: 15 mar. 2024.



Com esse elemento, somada alguns outros movimentos que o PT vem fazendo, me fica me parecendo claro que o que está acontecendo, é que existe internamente, pelo menos uma boa fração do partido, que acredita que a melhor forma de combater o bolsonarismo/conservadorismo, não é nem puxando as temáticas para a esquerda, mas ocupando o que seria espaço do conservadorismo e no processo, o próprio PT acaba dando umas guinadas para a direita. Note que existe para a direita um desconforto com o fato do PT estar compondo até bem demais com a própria direita, enquanto existe um certo descompasso com parte da militância que ainda é "progressista".

Só o fato do próprio governo decidir se auto impor um teto de gastos e ainda por cima com meta zero, e caso não cumprir isso, um crime de responsabilidade na cabeça do presidente, de à todo custo evitar um conflito contra o bolsonarismo/conservadorismo e em muitos casos, aderindo à essas políticas públicas da direita com um véu mais arrumado - tudo o que me parece é que a ideia geral é agradar tanto a burguesia que o bolsonarismo perca espaço e esse campo da direita, o PT passe a ocupar. A idéia parece ser recuar a ponto da extrema-direita perder esse contato com a direita conservadora mais "moderada", que é a que tem grana.

Esses cancelamentos dos atos apontam para uma guinada para direita na disputa ideológica, se Hamilton Mourão, que foi vice de Bolsonaro aprovou, isso só indica que o PT quer estar no meio de conservadores “arrumadinhos” - vide Joice Hasselmann e Simone Tebet. Arthur Lira mesmo não enxerga como alguém dentro do campo da extrema-direita, "ele é alguém que dialoga" segundo o que ele fala na sua entrevista no Roda-viva.

Ou seja, me parece que o PT não quer nem disputar tanto a hegemonia na esquerda, tanto que isso permite que muitas vezes o PSOL, que por enquanto não capitulou (é o que vamos ver nos próximos anos), ganhe destaque na esquerda, mesmo que ele tenha infinitamente menos deputados, senadores, vereadores e seja um partido infinitamente menor que o PT.

“Ah mas o PT faz política pública” - meu caro, isso é o mínimo, até Reagan, Thatcher, o imperador Dom Pedro II, Pinochet, Mussolini e cia, faziam alguma política pública. Fazer ou não política pública não é uma coisa que determina a sua posição política, a questão é o que você faz com essa política, isso que a gente precisa observar.

Por exemplo, no governo atual o BNDES está sendo usado para financiar o processo de PPP para privatizar grande parte dos serviços públicos, oras bolas, isso é assistencialismo para rico que ainda não tem uma renda garantida e sem perdas, de administrar um serviço público.Vai dizer que isso não é uma política conservadora ? E note, que existe um tamanho tremendo, é onde basicamente o orçamento todo é direcionado.

Enquanto as universidades públicas sofrem risco de não conseguir terminar o ano por falta de orçamento, não falta dinheiro para as polícias militares e sem fazer nenhuma mudança na lógica militar ideológica da corporação (que o governo inclusive fez um decreto para incluir no exército nacional). Então assim, ao que tudo indica, o PT não quer mais ser aquele partido de esquerda liberal, a gente não pode esquecer por exemplo, que o PCdoB abandonou aquela estética socialista para adotar uma verde-amarela, tentando pegar aquele eleitor do Bolsonaro nas eleições municipais de 2020 (posso estar confundindo, mas eu tenho certeza que isso rolou, me mande mensagem se estiver errado).

Me parece que o sucesso eleitoral da direita (que não se resume só a eleição de Bolsonaro, mas sim, tanto em 2020, 2022, ocupando vários cargos diferentes) faz com que esses partidos de esquerda do “campo democrático”, que abandonaram muito aquela velha militância de rua, de instituições, de fazer combate ideológico, etc, vêem isso como uma ameaça para sua própria capacidade de mobilizar numa sociedade que não é mais tão “progressista” como antes, nós estamos falando de ethos reacionário geral e que não tem por parte dessas máquinas partidárias, nenhum grande esforço de disputar consciência.

Então eles tentam ganhar de partidos como União Brasil, PMDB e cia, o eleitorado conservador. O PT hoje tenta ganhar muito mais o eleitor descompromissado com política (e pensa a política unicamente de forma eleitoral), do que disputar consciência, ocupar espaços, etc, etc.

Será que o crescimento da esquerda radical não foi um crescimento, mas na verdade um encolhimento do “campo democrático” ? Será que na verdade estamos falando de partidos que podem até ter nomes populares no nome, mas que já não tem mais nenhuma consciência minimamente de esquerda ?