O inimigo Putin

Aqui no ocidente se tornou comum termos adversários conservadores sem a mínima qualificação intelectual. No Brasil temos Bolsonaro e uma lista infinita de bolsonaristas, todos sem a mínima capacidade de pensar o mundo à sua volta. É um tipo diferente de burrice, é um tipo de ideologia que consegue fazer precisamente a inversão da realidade que Marx descreve na Ideologia Alemã.


Na Rússia a história é outra. Nós estamos falando de um tipo de conservadorismo que estuda, que escreve, que tem capacidade analítica e que domina muito bem a ciência. Enquanto no Brasil, a ciência é uma ferramenta que os conservadores têm aversão, na Rússia figuras como Putin, de fato estudam e sabem muito bem o que fazem, no que se trata sobre estratégia política, história, sociologia.


Os desafios para os novos comunistas russos (se é que eles ainda existem por lá) é o dobro de dificuldade que os bolcheviques tiveram que enfrentar com os Romanov. Esse tipo de conservador inteligente aparece na figura de Alexandre de Moraes no Brasil. Ele é o mais próximo de ser um “liberal esclarecido”, só que ele está sozinho. Nem mesmo Haddad, Dino e Rui Costa, que são quadros que vieram da esquerda, têm essa mesma habilidade.


É incrível ver Alexandre de Moraes, que foi indicado pelo presidente mais impopular do Brasil Michel Temer (que é ruim também, não se engane no portugues rebuscado), ter aproveitado a deixa, e claro dentro das suas atribuições de juiz, em comprar a briga contra o bolsonarismo, ainda que isso seja no curto prazo dê uma certa hegemonia para a esquerda. Isso ajuda o STF de uma forma geral, no médio longo prazo, a ganhar mais credibilidade com  a população, mostra a seriedade e o compromisso do órgão com a justiça (mesmo com todas as decisões contra a classe trabalhadora em questões trabalhistas, por exemplo).


Eles avançam o projeto, mas a gente aplaude porque vai pegar o ratinho do Bolsonaro.


A grande questão da direita brasileira é que ela não precisa do caos do Bolsonaro para continuar seu projeto político. Isso Moraes entende bem, a burguesia já domina o Estado, os meios de comunicação, as redes de distribuição, o exército (capenga e tal, mas tem armas), a polícia, a esquerda mal consegue dominar o que em tese seria seu espaço, a universidade. As ruas dormem com desemprego, fome, desmobilização, epidemia de depressão e ansiedade.


O clima político do Brasil é de realismo capitalista. Isso cria uma situação de depressão generalizada que é difícil fazer as pessoas sequer saírem de casa para votar. Qualquer pessoa comum, que não é muito ligada com política, se sente o tempo todo enganada, mal representada e se sente impotente em relação à política. Não é só os noticiários que ajudam a perpetuar essa sensação, mas também a própria vida nesse capitalismo neoliberal, de todos contra todos, de esquemas dentro de esquemas, nas boas e velhas panelinhas, etc, que ajudam todo mundo sentir uma sensação de estar jogando um jogo de cartas marcadas.


É você mandar curriculos para tentar arranjar um emprego sabendo que tem provavelmente alguém que é amigo do RH, do chefe e a porra toda, que provavelmente vai conseguir a vaga antes de você. Por isso todo mundo engole seus antidepressivos e cigarros até não aguentar mais. Eu não sei como é a política russa atual, mas o que eu sei é que nós precisamos apostar na inteligência do povo, pensar de forma mais estratégica, inteligente, comprometida, porque se a nossa direita aposta na burrice, isso nos dá espaço para ser essa amálgama desorganizada que chamamos de esquerda.


O fato da gente ainda ter um movimento de esquerda no Brasil hoje em grande parte é sorte de ter uma direita tão tosca e anti-iluminista. Por outro lado, a gente precisa pensar no papel que essa esquerda libertária, liberal, tem em manter o movimento de massas desorganizado. Será que o Brasil precisa de um Putin ou a esquerda libertária já faz esse papel de minar a organização popular ?