ᴹᵒʳᵃᵈᵒʳ ᵈᵉ ʳᵘᵃ ⁿᵉᵍʳᵒ ᵉ ᴷᵘʳᵗ ᶜᵒᵇᵃⁱⁿ

Hoje eu acordei muito anti-iluminista.

Esse vídeo abaixo mostra a reação das pessoas à morte de Cobain, a que mais me chamou atenção e a que eu mais me identifiquei, é a reação de um morador de rua que disse que gostava da música do Nirvana.


Enquanto todo mundo meio que falava cinicamente sobre o quanto ele não era igual John Lennon, ou o quanto os jovens gostavam dele, ali estava um homem negro que vivia como pedinte decepcionado.

Por que decepcionado ? Talvez melhor do que ninguém, ele entendia a mensagem das músicas de Cobain e de certa forma, o sucesso ali era um tanto uma inspiração, uma felicidade por uma outra pessoa fodida ter conseguido conquistar alguma coisa.

Talvez pior, ele como morador de rua deve ter conhecido tantos outros Cobain que morreram sem nunca ter chegado lá, às vezes de frio, de fome, por dívidas com o tráfico ou com a repressão policial, mesmo por overdose.

Não é nem que ele queria estar lá, mas que ele queria ver o outro bem. O ídolo pop tem papel ideológico muito claro : eles incorporam o mito da genialidade, da insistência, do trabalho duro que um dia vai ser reconhecido.

Por mais radical que Kurt fosse, ele foi assimilado. Sua mensagem adestrada, o seu estilo de se vestir virou uma moda. É louco o papel que o ídolo tem, de mudar o comportamento e fazer as pessoas mudarem. Ou melhor, a capacidade que eles têm de servirem como um horizonte dentro do capitalismo.

Uma outra leitura para o fim das das grandes narrativas, não é que deixamos de sonhar ou de fazer leituras amplas sobre o mundo, mas que a gente agora se concentra nessas figuras assim. Nosso horizonte quem faz são as celebridades, por isso elas ganharam mais importância que projetos políticos amplos e coletivos.

As pessoas enxergam essas pessoas como projetos de vida. O futuro está nas mãos de uma Beyoncé, de uma Madona, do Metallica, etc. Existe muito isso, olhar a celebridade como exemplo máximo e quando ela faz algo considerado ruim, ou errado, ela ser condenada.

Não é uma pessoa errando. É um projeto de vida que se fechou, um amanhã que deixou de existir. Por isso, o morador de rua olha para Kurt, não de forma cínica e fica comparando fulano com isso, aquilo, mas de forma mesmo melancólica.

O fim da vida de Cobain foi um horizonte que se fechou para ele próprio, as pessoas fantasiam, torcem, acreditam nas celebridades como se elas tivessem vivendo a vida delas.

Ghost