Sobre escrever o blog nesse primeiro mês

Eu já não escrevo com mesmo ânimo. Então sendo bem sincera, não sei o que me mantêm escrevendo. Qual é o mecanismo psicológico que eu mantenho que apesar do constante desânimo me faz escrever ? Às vezes eu fico pensando que a minha condição material de constante impotência é a chave para isso. Não sou particulamente rica, longe de ser alguém com muitos amigos e acho que para mim, quando eu precisei, ficou bem claro quem de fato era meu amigo e quem não era.

Sabe a pior parte ? Eu nunca mantive muitas ilusões em relação à isso e ainda não mantenho, eu acho só que é triste, é triste sempre ser aquela pessoa que quando acontece algo, é sempre deixada de lado. Eu sou alguém quando precisam de mim, quando sou útil. Me chamam quando precisam comemorar alguma coisa, ou quando sei lá, só querem dar uma volta ?

Escrever meio que em parte é eu me iludindo que o que eu penso tem validade, ou que eu tenho alguma condição de contribuição para o mundo. Voltar a escrever, mas não só, publicar meus textos, me faz pensar nesse desânimo.

Penso muito na universidade. Eu já entrei desiludida, desanimada, sem expectativa nenhuma. A universidade, como instituição, como comunidade, etc, contribui muito pouco para ser um espaço particularmente agradável. Será que eu tenho fobia social ? Eu acho que não é o caso, o que me incomoda, me deixa irritada mesmo, é a quantidade imensa de joguinhos que a gente precisa ficar considerando na nossa vida social.

Em parte, eu não tenho muitos amigos por isso. Vou dar um exemplo muito sintomático. Eu, em uma dessas semanas ai, faltei a semana inteira. Fiquei doente, não consegui nem sair de casa. Vomitei, etc. No geral, eu ando faltando bastante também. Me perguntaram o que foi e eu tenho uma certa clareza disso, não porque se preocupam comigo, mas exatamente porque isso é também uma boa fofoca para contar. "Oh lá fulana faltando" e seguem as especulações sobre a minha vida.

É bem cansativo ainda ter que lidar com dinâmicas de relacionamento praticamente adolescentes. Isso é nos empregos que a gente consegue, nas relações na escola, etc.

Esse é um problema que eu já havia identificado. Eu sei que muitas pessoas à minha volta são pessoas muito boas e que merecem todo amor do mundo. Ao mesmo tempo, qual é o verdadeiro mecanismo que mantém a nossa relação funcionando ? Eu deixo isso bem aberto para vocês porque é uma condição da vida geral das pessoas. Muitas famílias, apesar do nome, não tem nenhum tipo de afeto, os pais são forçados a ser pais pela pressão social, os filhos atuarem como filhos e na prática, não se tem uma relação familiar no sticto senso. Digo, aquela união familiar que a gente acredita que existe. Se existe uma família que se ama e se cuida, ela aprendeu a fazer isso, porque não acontece magicamente.

O mesmo vale muito para as relações de trabalho, as relações de amizade da escola, etc. Apesar do efeito final parecer uma relação de afeto, basta alguma coisa acontecer que o castelo de cartas se desomonta. Às vezes, eu fico pensando que essa constante tensão, essas relações que por mais amigáveis que sejam, por mais boas e legais que elas possam ser, no final do dia, a verdade é que ninguém se importa tanto assim com você e assim, ótimo. Mas e se um dia, eu precisar também do apoio ? E se ao invés de eu ser sempre a pessoa que busca a relação para que ela exista, você se importar o suficiente para vir até a mim ?

E tem outra questão, e se o problema de fato seja eu ? Será que eu sou uma boa amiga, uma boa parceira, etc ? Tem alguma coisa que eu poderia melhorar ? Algo que eu posso tentar mudar ? Mas é tão dificil a gente chegar num nível de franqueza, que em parte não esteja dentro de uma rede de jogos de linguagem e códigos sociais, que é dificil identificar o que está acontecendo. Eu reclamo dos jogos de linguagem porque o que acontece e isso é cada vez mais comum, é das pessoas terem suas próprias conclusões sobre tudo e nunca te informar sobre nada. Sabe a experiência de ler senhor Friedrich Nietzsche, onde ele cita um monte de coisa, cria conceito do nada, escreve em poesia, onde você nunca sabe se é o autor ou sífilis falando.

Eu to falando disso, porque eu tenho quase certeza que muitos de vocês também tem muitos desses problemas que eu falei. Como que a gente supera isso ? Como que a gente não cai no suicidio, ou no vicio, ou numa socialização falsa e alienante ? Tava vendo sr. João Carvalho falando sobre o marxismo chinês e uma coisa muito importante, que passa despercebido, é a necessidade da gente tentar superar as condições materiais da nossa realidade e isso só é possível com organização.

Esse isolamento, esse tipo de sensação constante de estar sendo enganado, é resultado da vida nesse capitalismo tardio. A grande pergunta é : como superar essa condição ? Qual é o esforço que precisamos fazer ? Muito se passa aqui, na internet e a forma de se usar ela, mas em última instância, também é lá fora no "mundo de carne".