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Estou pensando ainda como vou organizar o blog em si. Quando a gente discute internet, geralmente se dá um foco muito grande na explosão, poucos explicam como ela aconteceu.

Eu acho que não posso ir muito longe para dizer que isso aqui, internet, depende de investimento. Uma coisa é ser influenciador pobre, outra é sendo alguém de classe média e outra coisa mais diferente ainda é ser influenciador sendo rico.
Não há igualdade aqui, a internet é uma reprodução do nosso mundo, faz parte dele (não é um mundo à parte como alguns defendem). O sucesso (nos termos que ele é definido aqui) é muitas vezes uma questão de ter dinheiro com equipamento, ter uma pequena equipe, ter os contatos certos.

O que não significa que quem tem menos condições não tenha ou não possa também ter essa organização, é uma questão de possibilidade para tal. Um vai chamar um editor de vídeo masterclass adobe premiere com computador da NASA refrigerado com lágrimas de pinguins e outro vai editar o vídeo sozinho no capcut crackeado no moto g5 de tela quebrada que ganhou da tia já usado.


O que dá a ilusão de que a internet é democrática é o fato de que o pobre pode acidentalmente viralizar e se tornar popular. Mas isso é um em literalmente bilhões de pessoas que também fazem conteúdos. Um passo essencial é a profissionalização, ser influencer é mais uma construção de uma marca.


E aí sempre tem um, mas Jones Manoel. Influenciadores de esquerda, coletivos, partidos de esquerda, etc, no tamanho que é a internet, são uma minoria esmagadora. A regra é você se tornar uma marca para vender coisas, é aquela coisa que eu já disse, errado somos nós que usamos a internet para socializar.


Essas exceções revelam que ter uma base de seguidores é também em parte ter poder político. Porém, a internet é feita inteirinha para venda. O influenciador digital é um rosto para a marca. Quando você vende maquiagem, por exemplo, você não fica mostrando embalagem e análise da qualidade do produto - você mostra o produto sendo usado, cria a fantasia também do seu consumo.


Não se vende carro falando só de desempenho, se vende o que esse desempenho pode lhe proporcionar. Então, um cara mostrando os relógios dele, outro cara fazendo viagem sei lá para onde, uma menina testando maquiagem, etc - são um tipo de conteúdo que em si já são uma grande venda para o produto.


Todo mundo usa adblock, todo mundo muda de canal quando chega a propaganda, a estratégia é criar um conteúdo que em si já é uma grande propaganda. Dito tudo isso, blog hoje serve única e exclusivamente para quem gosta muito, muito, muito, de uma coisa.


Tem gente que menospreza, mas é importante você ter também um conteúdo mais exclusivo e mais "deep" por assim dizer, para quem é seu fã radical. Só dar um exemplo, você é uma empresa que administra uma distro do Linux, nada impede de você fazer um vídeo e tal, das mudanças que você pretende colocar no sistema, esse meio vai ser o mais visto. Ok.


O blog post serve para quem se interessar mais e mais, muita atenção aqui, o seu público também produz conteúdo sobre você. Pode ser que as suas redes nem sejam grandes coisas, mas alguém leia o blog post da sua empresa e faça um vídeo explicando.


A vantagem de estar numa postagem mais longa e tal, possibilita você falar de mais detalhes, explicar melhor as coisas, etc.


Eu sei que é um exemplo muito específico, mas ele serve para explicar a função de ter um blog (isso sempre depende) para uma marca no capitalismo.


E para alguém como eu ? Qual a função ? Oras, atualmente é só uma possibilidade de tentar buscar alguma ressonância. Jogar no oceano a mensagem para alguém pegar.


Algumas lógicas da postagem não poder ser longa, de eu não falar de temas ultra específicos. De eu trazer temas que eu gosto ao invés dos que estão na moda ou no fogo da notícia.


Ou seja, eu posso fazer o que achar melhor. Isso muda a frequência, a importância de cada postagem, etc. Hoje eu vejo meu blog como : 1) um espaço que eu posso compartilhar as minhas coisas; 2) um investimento a longo prazo caso eu precise criar uma audiência para me sustentar.


Eu vejo essa necessidade de compartilhar as coisas porque eu sou humana e ninguém é humano sozinho. Tem dias que eu acordo e quero discutir filosofia dentro de um jogo, outro que eu quero falar de música.


Segundo ponto, é compreender o papel central que a internet tem na economia. Não está fácil conseguir emprego, muito menos achar/passar num concurso público (eles vão diminuir). Eu quero tentar, se eu não conseguir, vou me ver forçada a tentar fazer as coisas funcionarem na internet.


Por mais que não seja a mesma coisa que o vídeo, com o tempo você cria algum público cativo. Se eu for usar outra mídia, vai ficar muito mais confortável eu fazer essa mudança.


É até um ponto importante : se tudo estivesse bem, é bem possível que mais da metade dos que hoje se dizem criadores de conteúdo não existiriam, mesmo com todo glamour, propaganda positiva.


Essa condição é imposta, a promessa de fortuna e fama é, em última instância, uma mentira, uma cenoura que serve para justificar a situação precária.


Eu acho que o blog num contexto de internet ultra-cheia de vídeo, animação, etc e tal, é importante porque ele tem uma certa longevidade, uma certa capacidade de se manter com o tempo.


Por enquanto, eu não pretendo entrar nessa onda de influencer, até porque no momento não vejo necessidade, e eu acho que eu deveria me preparar, digo num espectro teórico mesmo, para não ficar batendo cabeça caso eu precise fazer isso.


E se eu nunca precisar, vou ter um blog muito bom sobre a internet, sobre a cultura de nosso tempo. Aí volto, mesmo que eu precise, vou ainda ter um blog muito bom sobre a cultura de nosso tempo.


Ghost