Fama e política : uma breve nota.

A mídia se estabeleceu como um poder político. A grande questão aqui não é o poder em si que ela supostamente possui, mas a capacidade que ela tem de mobilizar e de fazer as pessoas fazerem coisas.

A relação do espectador com a mídia é fetichista. É uma relação invertida, onde o objeto atrai o suposto sujeito, e o transforma em objeto.

Não é um tipo de coisa que a gente deve ignorar, inclusive nas relações políticas que a gente constrói. Existe um certo componente de fama que afeta mesmo a nossa militância política.

Isso é resultado justamente de uma sociedade que não consegue oferecer empregos, mesmo o “estável” funcionalismo público foi afetado e sem contar a literal aposta que é a gente construir um “empreendimento”.

Então, não deveria ser estranho dentro mesmo da militância política de esquerda, você ver pessoas tentando alcançar um certo protagonismo, ganhar destaque, aparecer mais e etc, porque isso pode significar lá na frente, um cargo político estável.

É um desvio liberal pensar dessa forma ? Eu não acredito que seja, isso acontece justamente porque a gente não consegue oferecer para os nossos militantes uma perspectiva dentro do nosso projeto político.

Não é à toa que tem gente que quer ser carreirista, deixar de ser tão radical, para conseguir ocupar bons cargos políticos. Em certa medida, não foi isso que aconteceu com o PT ? Em parte, é uma questão de "se eu ficar mais comportado, eu tomo vinho com o patrão".

O que me preocupa muitas vezes, nem é tanto a juventude, por incrível que pareça, nós até conseguimos fazer um bom trabalho com os jovens, mas a velhice, os adultos, esses são problemáticos.

Estar velho, em si, não é sinal de sabedoria ou de cansaço. Existem pessoas e pessoas, isso vale até para as pessoas mais velhas, a grande questão é a experiência, o saber fazer, o conhecimento, que militantes mais velhos podem nos trazer.

Esse saber fazer, também vem com certo prestígio político, e é muito evidente, que esse arquétipo do ex-comunista que vira um velho reacionário, é muito poderoso. Você tem que pensar o seguinte : essas pessoas são mães, são pais, são avós, eles têm uma influência tremenda nas pessoas à sua volta.

Eu trago isso justamente porque conforme você envelhece, você sente que a morte precisa ser mais próxima e você começa pensar de forma mais pragmática, você começa pensar em como vai envelhecer, como vai fazer as coisas e tal.

Aqui o status quo ganha da gente : ele oferece, nem que seja uma migalha, para quem se comporta. Num mundo extremamente sem segurança social (no sentido de não ter onde morar, em quem confiar, etc), muitas vezes a solução que as pessoas enxergam é se acomodar com algum projeto reacionário.

Veja, não é problema se acomodar, as pessoas estão tentando sobreviver, a questão é o que a gente pode melhorar a vida das pessoas ? E melhor, como a gente pode mostrar que as lutas que a gente trava tem aspectos bem pragmáticos ?

É fácil para mim, uma mulher trans entender a importância de defender o SUS e lutar para ter acesso à ele, isso melhora a minha vida e de outras pessoas (até de vocês cis). Agora eu fico pensando, o que um velho branco aposentado do sudeste entende sobre o caráter pragmático, de por exemplo, ele lutar para que seus netos e filhos também se aposentem num futuro próximo ?
 
O jovem hoje é a criatura mais sem perspectivas de arrajanr um emprego, comprar uma casa e aceitar o status quo, não é a toa que a gente tem uma juventude tão rebelde apesar do Brasil ser um antro reacionário. 

Eu acho que existe um aspecto de perspectiva também, que é muito importante. Veja, existe um certo conforto e um certo futuro, que apesar de todo mundo dizer que é ruim, que ser reaça, que fumar, que se drogar, que se prostituir e entrar no crime, por fim, que a fama (principalmente essa nova moda de influencer) dá que a nossa esquerda vem sendo incapaz de construir.

Isso vem mudando, eu acho que ver a esquerda crescer, nem que seja um pouco, é sinal de boa esperança…
Ghost