ᴾóˢ⁻ᵐᵒᵈᵉʳⁿⁱᵈᵃᵈᵉ ᵉ ᵒ ᵛᵃᶻⁱᵒ ᵖᵒˡíᵗⁱᶜᵒ.

Existem teses filosóficas das mais diversas sobre esse nosso período histórico que alguns chamam de pós-modernidade, ou hipermodernidade, pós-fordismo, capitalismo semiótico, etc. Essas diferentes abordagens trazem problemas diferentes sobre essa nossa época, mas diferente do que vimos na filosofia medieval, na filosofia iluminista, por fim a moderna (se assim podemos dividir), não há um projeto político.

O grande papel da filosofia na idade medieval foi racionalizar, encontrar argumentos lógicos para a existência de Deus e sua perfeição. Isso veio na forma de abordagem mais materialista, mesmo da fé religiosa, existiam por exemplo, comitês para avaliar milagres para considerar novos santos. De longe, acredito eu, o maior papel da razão para a igreja mora na sua organização política, na maneira que se formam novos padres, novos fiéis.

As nossas universidades, por mais que elas tenham esse ar iluminista, sua estrutura é a mesma medieval. O iluminismo, já que falei nele, também, tinha uma avaliação sobre o mundo e com isso um projeto político. Os famosos contratualistas, por instância, tinham uma avaliação sobre o mundo e essa avaliação, ditava qual projeto político eles defendiam. Exemplo mais evidente que Hobbes e seu medo, na defesa da monarquia. A filosofia moderna, na mesma medida, partia suas ações políticas de sua filosofia.


Eu sei que eu estou jogando uma série de autores diferentes juntos e eu sei que o recorte pode ser problemático. Mas consegue notar um certo padrão ? Eu tenho muito mais uma proposta política dentro de um autor como Rousseau do que em Deleuze, Lyotard, Fisher, Zizek, etc. Claro, eu não sou uma defensora cega da novidade, para fazer certas coisas não precisamos reinventar a roda, ao mesmo tempo, que precisamos adaptar a roda para o terreno que vamos pisar. Esse é o pulo do gato que não estamos fazendo. Também não dessas que diz "a filosofia antes era melhor", não, o problema é a gente adaptar a filosofia pro nosso tempo/espaço.


Como uma estudante, eu leio essas coisas, basta ler o que eu escrevo você vai ver toques pós-modernos. Sempre me incomoda a completa incapacidade de traçar uma ação política nos filósofos atuais. “Mas a filosofia não tem uma obrigação de ser útil, ou de apertar a sua mão e te mandar o que fazer” - Então, eu te pergunto por que a gente ainda perde tempo estudando filosofia ? Se a filosofia não se interessa em lidar com a vida, por que estudar ela ?


Muito da bagagem teórica da antropologia, da história, da sociologia, da ciência política, da psicologia, da pedagogia, etc, já cobrem muito do que a filosofia cobre. Se você pensa de forma mais pragmática, materialista, sequer faz sentido você se dedicar tanto tempo atrás de filosofia. Aqui a gente pode acusar de academicismo, de oportunismo, etc, e é válido para a vida acadêmica de uma certa forma como um todo. (É uma crítica boa ? Depende, eu vejo muita gente fazendo, acho limitada, mas é feita por aí)


E aí, eu quero fazer um exercício com vocês que é tentar pensar o seguinte : o que a gente faz com essa conclusão ? O que me incomoda com essa posição é que ela nos deixa sem o que fazer, ela não nos leva a nenhuma direção - eu vejo a filosofia muito como uma ferramenta para lidar com esse tipo de situação.


Os pós-modernos, por assim dizer, não possuem em grande parte, um compromisso social com o que escrevem, com o que ensinam, com quem falam, porque eles mesmos são elementos isolados na sociedade. Aquela velha conclusão do narciso moderno, que aparece em uma dezena desses autores, também é válida para eles mesmos. Isso explica um outro fenômeno : a quantidade de gênios autodidatas que apareceram. Coaches, cursos, influencers, gurus, figuras que acreditam saber sobre tudo - e a gente sabe bem que eles não sabem.


Como esses pensadores não têm compromisso social, de que importa a didática ? No mais, o público busca um igual, busca discursos, ideias, conceitos, mais próximos do que ele mesmo já acredita. O filósofo como uma figura contraditória, ele fica para trás, perde para o ideólogo do discurso fácil.


É fácil de engolir porque é familiar - porque é comum, isto é, porque é a ideologia dominante. O filósofo, este, também isolado no seu canto, não tem o que fazer senão trabalhar narrativas que mostram sua fragilidade.


Aqui podemos avançar, o nosso foco na filosofia precisa mudar. O bom filósofo, que tem algum compromisso com um projeto revolucionário, ou de mudança social, precisa mudar sua forma de atuação. Ou seja, a filosofia revolucionária precisa voltar para o povo. Mas é interessante, mesmo figuras como Zizek, optaram por uma outra opção : que é adotar a imagem, a postura, de um demagogo - ai realmente fica difícil diferenciar o filósofo do coach.


E fica difícil também considerar o socialismo, imaginar o fim do capitalismo,  acreditar no trabalho de massas, propor alguma alternativa política e por ser da filosofia, ninguém realmente espera algum compromisso político.

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