ᴾᵒⁿᵗᵒˢ ˢᵒᵇʳᵉ ᵃ ᵖᵒˡíᵗⁱᶜᵃ ᵇʳᵃˢⁱˡᵉⁱʳᵃ ᵃᵗᵘᵃˡ


É fácil reinventar a roda e ficar discutindo as coisas sem um propósito. Quando vamos falar sobre qualquer coisa, existe sempre um viés, um ponto de vista. É muito difícil sair de si mesmo, o que a gente fala, o que a gente expressa sem passar por uma perspectiva. É esse o problema que eu vejo desse texto.

Lula é posto como um elemento da esquerda de forma indiscutível, não importa as políticas que fez nos últimos meses, os apoios políticos que construiu, o discurso que ele vem construindo. Do outro lado, não se debate o sentimento anti-bolsonaro, não se fala dos problemas que a família Bolsonaro andou se metendo (cita, mas não discute), se destaca que existem setores que ainda o apoiam, mas não falam quais, muito menos há o esforço para entender como esse conservadorismo se reproduziu na sociedade.

É uma visão da política muito estática, sem nenhuma disputa, sem nenhuma mudança. Vou apontar alguns pontos para ajudar quem quer pensar essas coisas ainda.

1- Lula não é de esquerda.


Aqui existem controvérsias. Tem gente que gosta de chamar de social-democrata, de reformista ou até de social-liberal. Fato é que dentro da trajetória de Lula ele foi abandonando aquela perspectiva de socialismo, já tinha abandonado a revolução para adotar um reformismo democrático.


Isso se formos falar até os anos 90, já em sua eleição de 2003, adotou a conciliação com setores da burguesia e desde então foi cada vez mais adotando políticas conservadores. Durante todos os seus governos nunca abandonou o tripé macroeconômico, nunca combateu o domínio do agronegócio na economia, incentivou a iniciativa privada nos serviços públicos, as privatizações mesmo nunca pararam, etc.


E pelo amor de Deus, abandonem essa perspectiva burra que fazer qualquer política pública é necessariamente coisa de esquerda. Isso é vício liberal em privatizar o Estado. Todo governo faz política pública, mesmo governos fascistas, governos conservadores, governos neoliberais, etc, isso é governar minimamente. O Estado protege o pobre minimamente porque é ele que faz a sociedade funcionar, sem alguma política pública, a sociedade colapsa e não é de interesse de quem detém o poder que o que ele domina entre num estado de caos. A culpa não é de Lula se os analistas, os políticos e os liberais são tontos sobre essa questão.


Há muita controvérsia no que eu estou afirmando, mas é impossível ignorar esses elementos, uma análise minimamente criteriosa pelo menos consideraria alguns desses pontos. A perda de hegemonia do PT não surgiu do nada, alguns dizem que foi  a política de conciliação, outros dizem que teve espionagem, etc. Aí me pergunto qual é a função de ocultar essa parte do debate.


2-Bolsonaro como um elemento da falta de organização política.


Se as pessoas não conseguem avaliar Lula de forma crítica, o que as pessoas fazem quando se deparam com Bolsonaro ? A verdade é que a nossa organização política, de participar de sindicatos, organizar coletivos, participar dos partidos, etc, diminuiu drasticamente nesses anos de neoliberalismo. O porquê disso em si é uma discussão e uma literatura inteira de textos.


É fato que Bolsonaro é um sintoma, não uma causa disso. Há um tipo de ignorância de quem o apoio por ser alguém fora da política (o cara é deputado de carreira) e uma dificuldade de quem é contra de se organizar contra ele, porque não entende como, quem, onde as pessoas o apoiam. As pessoas olham para os políticos como se fossem eles a causa do movimento que apoiam, mas a verdade é que eles não fazem as coisas sozinhos.


É preciso entender a base social do movimento fascista e se organizar para combatê-la. Ainda tem gente que acredita que escrevendo livros vai derrotar o fascismo, tem gente que acha falar que o que Bolsonaro é feio, que as coisas que ele faz são ruins, etc, basta como ferramenta de combate.


O bolsonarismo existe porque existe quem o reproduz. Existem elementos na sociedade dispostos a seguirem e aplicarem seus ideais, porque acreditam na mesma coisa que Bolsonaro. Existe o delegado, o juiz, o padre, como tem o trabalhador frustrado, a mãe reacionária, o velho abandonado pela família. Novamente, são elementos que precisam ser considerados mais do que a personalidade infantil de Bolsonaro.


3-Onde está a esquerda revolucionária ?


Meu último ponto a se debater. É fácil abrir a boca para falar contra os revolucionários, afirmar ser um realista político e defender o mesmo programa do status quo. Há um debate, mesmo entre esses analistas políticos mais moderninhos, que o neoliberalismo não funciona e que a gente precisa de uma nova versão da social-democracia. Não se fala como, não se fala quem, onde vão conseguir executar esse feito.


Enquanto isso os recursos naturais acabam, a qualidade de vida piora, o fascismo avança e os chamados progressistas discutem se é democrático o desemprego atingir os índices de 10% ou 10,1%. Existe uma falta de horizonte político tremendo, não é porque a gente tenta imitar o passado, ou porque a gente perdeu a nossa humanidade, ou sei lá o que esses pós-modernos ainda falam - É falta de um horizonte revolucionário. Falta de uma perspectiva que nós podemos construir um futuro e sei lá, mudar, não cometer os mesmos erros do passado.


O nosso problema é não poder discutir mais alternativas organizativas, de poder ter espaços que desafiem a ordem do capital de reprodução do lucro. Isso não vai ser o social-democrata bem vestido que vai fazer.


Esses são apenas alguns pontos. Espero ter contribuido.

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