ˢⁱˡᵛⁱᵒ ᴬˡᵐᵉⁱᵈᵃ, "ᵒ ⁱⁿᶠᵃˡíᵛᵉˡ"

 
Grande parte dos críticos de Silvio Almeida sequer leram algum texto dele. É prática comum no debate público, o foco geralmente é no que aparece mais e no momento, Silvio é ministro dos direitos humanos, é conhecido por difundir o conceito de racismo estrutural e é um homem negro com uma formação acadêmica vasta.

O que a gente debate sobre Silvio sempre fica nessa superfície.

Seja positivamente, seja negativamente, a verdade mesmo é que a gente não conhece muito sobre Sílvio. A causa dessa superficialidade geral no debate público é múltipla e para o que a gente vai discutir não importa tanto assim. Podemos invocar Debord, explicar a sociedade do espetáculo, podemos explicar toda questão dos algoritmos, etc; Podemos dar uma explicação simples : as pessoas não têm tempo de ficar sabendo sobre tudo, trabalho, casa, escola, etc; Essas explicações agora não nos levam a descobrir algo novo sobre Silvio ou sobre nós, conseguimos discutir questões que dizem mais sobre a sociedade que criamos em geral.

O Governo Bolsonaro nos mostrou que quando se trata dos líderes políticos, ministros, funcionários da alta estrutura do Estado, dos juízes, advogados, médicos, etc, existe uma mistificação da figura da autoridade.

Havia uma tese que perdurou até o fim o governo Bolsonaro (continua em alguns grupos), que Bolsonaro fazia todas aquelas burrices e tal, mas na verdade ele tava mentindo, havia ali alguma tática complexa de um gênio político. Do viagra, passando pela farofa, até aquele escândalo das meninas menores de idade, para essas pessoas tudo aquilo não passava de algum grande plano secreto infalível de Bolsonaro.

O que se confirmou na verdade e a mídia não-intencionalmente mostrou muito isso com os escândalos e CPIs que se formaram no caminho, é que a figura de autoridade muitas vezes é tão medíocre quanto a gente. O fato dele ter conseguido virar advogado, policial, político, empresário, não o torna necessariamente mais inteligente ou mais capacitado, até porque essas pessoas, não raro, conseguem esses cargos na sorte.

De certa forma no Brasil, esse saber de que o seu chefe, o prefeito, o policial, etc, essas figuras de autoridade, todas cheias de jaleco e de tratamentos especiais, são humanos e o fato deles terem toda essa vantagem na sociedade é meramente arbitrária. Se a gente fosse discutir a questão da automedicação, ela é algo além da própria dificuldade de acesso ao SUS ou a qualquer sistema de saúde privado, é também uma questão de não confiar cegamente na autoridade do médico.

(A figura no Brasil não é ninguém especial, mesmo que para chegar naquela liderança ele precise de alguma qualificação. Podemos trabalhar com a hipótese que por conta da nossa colonialidade, quem sempre ocupou essas posições de destaque sempre foram ou gente indicada por um português indicado por um rei que nunca vimos, ou por algum coronel local que herdou as terras de alguém indicado. Esse nosso desgosto pela autoridade provavelmente vem de longe)

Uma outra forma de ver 2018 e o sucesso eleitoral de Lula (e não do PT necessariamente), é o fato de alguns candidatos conseguirem expressar em si, algum tipo de identificação na população. As pessoas se identificam no Bolsonaro, não necessariamente no seu discurso, mas no jeito de ser. O mesmo vale para qualquer eleitor de Lula. A política, aquele discurso complexo de economia, de debate sobre privatização, sobre alimentação, etc, na verdade ele é um enfeite, uma coisa que vai para o jornal e de forma muito difusa nas rodas de conversa.

O que muitos analistas políticos não conseguem entender é que muito do debate político não passa por uma classificação rígida e academicizada. As pessoas não vão sentar para discutir esse tema e falar que “esse Lula faz política pública baseado na teoria utilitária de Stuart Mill”, o que as pessoas querem saber é o que acontece na prática. O funcionário público quer saber se vai ter o seu emprego, se ele vai ter um salário para poder comprar comida, o trabalhador de carteira assinada quer saber se tem algum direito ainda, etc.

A grande teoria política por trás daquilo não importa e bons analistas políticos sabem disso. O que isso afeta a minha vida ? Essa é a pergunta que precisa ser respondida. Por isso que apesar de todo mundo odiar a mídia, todo mundo ainda assiste porque precisa saber o que o governo decidiu, o que a polícia fez em X bairro, o que está acontecendo com as linhas de metrô e ônibus, etc.

Se a gente for observar bem a militância política anti-Bolsonaro que se formou durante seu governo, principalmente os mais liberais, se incomodam exclusivamente com o que Bolsonaro e seus ministros diziam, com o que aparecia na mídia como escandâlo. Se o escândalo de Watergate foi definidor para a mídia americana na sua forma de produzir a “notícia” através do espetáculo, e desde então tudo o que ela quer é um novo Watergate; Para a mídia brasileira, o mensalão foi o escandâlo que a mídia brasileira busca incessantemente para fazer uma grande cobertura.

Então o que ela quer são frases, são escândalos, novas polêmicas. A cobertura das CPIs, por exemplo, virou um palco midiático e um espaço inclusive para os políticos conseguirem ganhar destaque. Onde estou querendo chegar com isso ? Para muita gente só o fato de ter o Silvio Almeida (aqui a reputação conta mais do que o conteúdo do que ele tem a dizer) e ele sair por aí falando coisas, já é o suficiente para seu trabalho de ministro.

Damares, a ministra anterior da pasta no governo Bolsonaro, (é só procurar o que vou afirmar) fez coisas muito piores e nojentas, que não chegaram na mídia e nas rodas de conversa. O que chegou foram sempre aquelas frases polêmicas. Essa militância gramática que se alimenta do escândalo é muito ineficaz em demonstrar o que isso tem de impacto na vida das pessoas.

É interessante porque até a pandemia, muita gente não via nada demais no que Bolsonaro fazia (isto é, o que aparecia na mídia). A pandemia fez a água bater na bunda de todo mundo. Agora já não era só o gay, a mulher, a travesti, os povos originários, o negro, que sofria com as políticas de Bolsonaro - todo mundo era afetado na prática por elas, as pessoas sentiam na pele. É aquela coisa, para algumas coisas serem importantes elas têm que chegar em alguém de pele mais clara e com muito dinheiro.

Qual a diferença para muita gente ? O que é dito. A questão do orçamento e o fato do resto do governo pouco se importar em combater o racismo, não importa. É isso que doutor que se orgulha em ter dois doutorados não consegue compreender. O ministério de Silvio é um dos que têm menor orçamento, Silvio não é político de carreira, como intelectual (assim como foi o caso de Renato Janine Ribeiro), mesmo que ele fique só um pouco no cargo, já tem uma experiência legal para jogar no Lattes.

(Se você chegar no Renato Janine e perguntar sobre as políticas de corte do governo Dilma na educação, o que você acha que ele vai te responder ?)

E se ele for questionado pelo fato de ter conseguido ter feito pouca coisa no seu ministério, basta ele apontar o orçamento, basta ele criticar Rui Costa, Flávio Dino e o resto do governo Lula que não tem compromisso algum com direitos humanos (a não ser no discurso, claro).

É muito tranquilo para Silvio sair do governo sem ferir a sua reputação. O que ele faz, deixa de fazer, não importa.

Isso diz o que sobre Silvio ? Absolutamente nada. Exatamente porque a questão do Silvio conseguir fazer X política pública, dele ter X ou Y orçamento, dele ser bom de verdade ou uma fraude, não são questões que o próprio Silvio tem algum controle (. Nós estamos falando de direitos humanos, adianta nós termos um ministério desses com o governo apoiando o agro que é publicamente conhecido por trabalho escravo, por matar lideranças do campo ? Adianta ter um ministério desses se um dos ministros, Rui Costa, deixou o seu estado (Bahia) com o maior número de mortes contra negros no Brasil ?

Isso diz muito sobre como se faz política no Brasil - basta ter o ministro de direitos humanos famosinho, os direitos humanos estão resolvidos. E sei lá sabe, Silvio sabe disso ? Será que ele sabe que é só um bibelô para o governo ?

Eu já conheci tantos e até trabalhei para um desses doutor da academia, e às vezes eles sabem tanta coisa para não saberem fazer absolutamente nada. Fala francês, inglês, espanhol, grego, etc, etc, etc, tem trabalho do exterior, conversa com filósofo X fodão, instituto isso, aquilo, escreve 500 livros e não tem capacidade de pensar o papel que tem numa situação dessa.

Quem é Silvio Almeida no governo Lula ? Uma miss universo que fala em favor da paz mundial, nesse caso, ela é negra e também fala contra o racismo.

O que eu sinto em relação a isso ? Eu fico triste por Silvio, a gente luta tanto para que situações como essas parem de acontecer e mesmo o cara que conseguiu, tem lá os diploma, tem toda a reputação foda, e da mesma forma ele é só um enfeite.


✳✧ 🎀 𝐼 𝓉𝓇𝒾𝑒𝒹 𝓈💗 𝒽𝒶𝓇𝒹 𝒶𝓃𝒹 𝑔❀𝓉 𝓈🌺 𝒻𝒶𝓇 

𝐵𝓊𝓉 𝒾𝓃 𝓉𝒽𝑒 𝑒𝓃𝒹, 𝒾𝓉 𝒹💞𝑒𝓈𝓃'𝓉 𝑒𝓋𝑒𝓃 𝓂𝒶𝓉𝓉𝑒𝓇 🎀 ✧✳


Estou falando de Silvio, mas poderia falar da Marina, Sônia Guajajara, da Anelle Franco. É muito interessante esse papel que a academia tem em nossa alienação, mas isso é tema para outro texto.

🍭 🎀 𝐼'𝓁𝓁 𝓉𝑒𝓁𝓁 𝓎❀𝓊 𝒷𝓊𝓉 𝒾𝓉'𝓈 𝒿𝓊𝓈𝓉 𝒷𝑒𝓉𝓌𝑒𝑒𝓃 𝓎🌺𝓊 𝒶𝓃𝒹 𝓂𝑒. 𝐼'𝓁𝓁 𝓉𝑒𝓁𝓁 𝓎💙𝓊 𝓌𝒽𝒶𝓉'𝓈 𝒽𝒶𝓅𝓅𝑒𝓃𝒾𝓃𝑔 𝒾𝓃 𝓉𝒽𝒾𝓈 𝓈🌸𝒸𝒾𝑒𝓉𝓎, 𝓌𝒽𝒶𝓉'𝓈 𝒷𝑒𝑔𝒾𝓃𝓃𝒾𝓃𝑔 𝓉🌸 𝓉𝒶𝓀𝑒 𝓅𝓁𝒶𝒸𝑒 𝒾𝓃 🍩𝓊𝓇 𝓈🍬𝒸𝒾𝑒𝓉𝓎 𝒿𝓊𝓈𝓉 𝒷𝑒𝒸𝒶𝓊𝓈𝑒 𝓎💍𝓊 𝒹🏵𝓃'𝓉 𝓀𝓃😍𝓌 𝒶𝒷💮𝓊𝓉 𝒾𝓉. 🎀 🍭


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