ᴱᵈᵘᵃʳᵈᵒ ᴹᵒʳᵉⁱʳᵃ ᵉ ᵒ ˢᵒᶜⁱᵃˡⁱˢᵐᵒ ᵘᵗóᵖⁱᶜᵒ

A esquerda brasileira sofre muito com a perda de seus camaradas na ditadura. A morte é mais do que só a perda física do corpo, ela é o fim de uma vivência, de uma construção histórico-política.

E nós perdemos muito.

Hoje ficamos nesse paradigma de ter movimentos muito pequenos, nichados, uma população que não gosta de se envolver politicamente e de depender da boa vontade de liberais progressistas em manter o mínimo de liberdade de  movimentação política de esquerda.

De vez em quando surge alguém como Eduardo Moreira, como lá atrás surgiu o trabalhismo de Brizola/Getúlio. O discurso por cima parece radical, soa radical, mas remonta lá atrás, Fourier, Charles Owens e Saint Simon. Acho que até pela maneira que a academia brasileira se organiza nós temos aquele arcabouço mais positivista, uma ideia abstrata de progresso da civilização (que dependendo da pessoa já sabe no que vira né).

Porque aqui do nosso campo, a nossa capacidade de mobilizar, construir espaços, avançar politicamente, é limitada e diria mesmo, com pouca possibilidade de construção, quando aparece alguém como Moreira, que tem alguma ressonância com o que nós defendemos, parece quase que automática a nossa adesão ao projeto político que ele quer construir.

Isso é perigoso, pois nós acabamos por deixar de lado a nossa formação, a nossa capacidade de construir narrativas e teses de fato marxistas, para partir para um proselitismo, tanto pela história do Brasil e pelo histórico da academia brasileira, muitas vezes religioso (especialmente cristão) e positivista.

Por outro lado, fazemos o que ? Importante destacar aqui o seguinte : socialismo utópico não tem esse nome porque não aconteceu ou não foi aplicado, ao contrário, eles foram projetos políticos inclusive tentados e você vê ecos de sua atuação até hoje. A grande questão é o idealismo, tomar o mundo das ideias como o mundo real, isso vem com uma análise pobre sobre a realidade, vem com um arcabouço moral ahistórico.

Moreira, por exemplo, discute que é pecado fazer dinheiro num Brasil desigual. Oras, isso é, em última instância, uma análise moral e que pouco explica a construção histórica, isto é, como que a gente criou essa sociedade do jeito que ela é. Como que a gente chegou onde chegamos ? Por conta de alguma corrupção moral ?

Não explica as causas do dinheiro ser algo tão cobiçado, o roubo que foi feito do público para que todo mundo fosse obrigado a arrumar tudo através do dinheiro. Por um momento vamos concordar com a conotação negativa do lucro : e aí, o que eu posso fazer senão aceitar viver num mundo de pecado ? Nós somos inseridos nesse mundo moral, podemos fazer algo para mudar se ele “simplesmente surgiu” ?

É errado fazer lucro, vamos dizer que seja, o que eu faço se para manter uma pequena loja que seja, eu preciso pagar menos aos meus trabalhadores, que eu preciso cobrar mais por produtos extremamente baratos para fazer, que eu faça mais que a minha concorrência local ? Se o lucro é algo imperativo para fazer qualquer coisa no capitalismo, como lidar com algo sistêmico tão gigantesco ? Eu como empresária posso ser muito boazinha, o que garante que os outros vão também ser ?

É interessante porque se entra numa espécie de fatalismo. É errado, mas eu faço o que ? Como se luta contra isso ? Isso nunca é algo discutido dentro do que ele defende. Os empresários são todos uns monstros, os políticos são feios e eu não posso fazer nada.

Eu acho que o discurso dele, por mais "progressista" que seja, ele ainda é parte do cânone do status quo. O capitalismo pode ser horrível, mas é o que temos para hoje - essa é a conclusão que se tira usando o moralismo, uma espécie de pessimismo liberal.

A própria figura do Moreira expressa bem o arquétipo desse pensamento : ex-operador do sistema financeiro. É alguém que viu o rosto feio do capitalismo, aquela parte que está muito bem descrita no Capital de Marx. É alguém que descia a Bovespa lá na República em São Paulo e em poucos metros via a pobreza extrema dos moradores de rua.

Se a gente volta, estuda o colonialismo, a questão das terras no Brasil, a herança da escravidão, etc, etc, se torna possível criar estratégias de combate. Com o moralismo de Moreira, sobra ou aceitar o sistema ou me tornar São Francisco de Assis, e a gente sabe que nada disso funciona.

Se tivermos uma compreensão histórica materialista, também compreenderemos a base material que constitui a nossa ditadura da burguesia atual. E não só, como transformar essa realidade.

Muita coisa é revoltante nesse mundo e não acontece por acaso, por algum mal antigo ou algo do tipo. O que torna o homem numa criatura sem nenhuma crença metafísica não é o socialismo, é em grande parte, o mundo capitalista em que vivemos.

É ele que tira toda possibilidade de qualquer coisa em nosso mundo. É impossível existir uma ética, uma moral, qualquer regra social mínima, onde o valor máximo é a reprodução do lucro sobre o lucro. O lucro substitui toda a nossa valoração do mundo, deixamos de ver o mundo como sequer seres vivos humanos.

É impossível o capitalismo sequer ser mau, afinal ele cumpre todo dia sua função mor de auto reprodução. Só poderemos um dia perder tempo discutindo filosofia moral no dia que passamos a viver num mundo humano.

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