ᴬˡᵍᵘᵐᵃˢ ʳᵉᶠˡᵉˣõᵉˢ ˢᵒᵇʳᵉ ᵃ ⁱⁿᵗᵉʳⁿᵉᵗ...

Na filosofia, por mais que exista uma formalidade e um monte de regrinha que só serve para doutor se chamar de doutor, existe uma parte dela, que possibilita a gente sentar numa ideia ou conceito, e tentar explorar para ver no que dá.

É o que eu vou tentar fazer hoje.

Quero voltar no tema redes sociais. Coisas que todos sabemos : a necessidade de socialização humana; monopólio das grandes corporações; o modelo de redes sociais só serve para vender produtos; o controle do algoritmo por parte das empresas.

Quando você observa grandes criadores de conteúdo, e aqui eu abro bastante o leque, do streamer hiper-famoso à pornstar, passando pelo tiktoker e youtuber, da modelo de Instagram para a página racista do Facebook, etc, o que não passa às vezes na cabeça das pessoas é o quão profissionalizado é todo processo de criação de conteúdo.

Cada passo é manufaturado, construído para ser o mais palatável possível, o mais acessível, portanto que circule mais. É muito comum gente muito famosa ser livre de controvérsias.

Felipe Neto, e aqui muita gente pode querer discordar que ele não seja controverso. Na verdade, se você olhar bem, ele é um cara que se adapta às modas do momento, tendências e por mais que ele tenha ido de Dilma ladra à Lula Livre, ele nunca chegou a ser alguém com uma opinião impopular em momento algum.

No sentido de que ele é capaz de capturar um sentimento coletivo e expressar como algo dele. Eu tô séculos off de Twitter, mas uma discussão que ele ficou muito destacado foi uma que ele disse que Machado de Assis é chato e que a gente deveria ler Harry Potter.

Os professores não gostaram, sei lá quem achou ruim, mas na prática essa é uma ideia que não é impopular nos dias de hoje. Quantas pessoas preferem ler 50 tons de cinza à Odisseia ? Não é algo controverso afirmar que muita gente prefere ler os 50 tons de cinza. (Sinceramente, que prestígio o professor tem no Brasil para discutir o tema que ele estudou ?)

E o assunto, note o que houve, de repente vira uma opinião que o Felipe Neto jogou no ar de "besteira".

Quando você desce, começa a ver criadores menores, você nota que muita gente tenta reproduzir o que esses caras grandes fazem, quase como se o caminho percorrido pudesse ser o mesmo.

Tem gente que fazer trocentos cortes, lives, vídeos, fala com uma linguagem parecida desses criadores grandes, tenta fazer formatos de vídeos parecidos, reproduz estilos estéticos, usa uma infinitude de redes sociais e mesmo com muito trabalho, nunca conseguem crescer e o seu sucesso geralmente é medido por esse número nas redes sociais.

(Note : popular = o que vende mais)

É interessante porque isso cria outros a Felipe Neto, outros Felca, outros Orochi, outros Yetz, outros Yoda, etc. Uma reclamação da era da TV à cabo é que era tudo muito igual, fechado numa caixinha; a internet hoje é basicamente isso. E como vou falar mais tarde, isso abre espaço para um tipo de conteúdo mais absurdo se destacar.

A gente não pode esquecer, o senhor Felipe Neto sempre foi alguém de classe média, nos anos 2000, ter um computador razoável e uma câmera nessa época era muita coisa. Eu digo Felipe Neto, mas pensa o streamer de LOL Yoda, que se eu não me engano, o pai era médico. Até peço desculpa porque eu realmente nem vejo mais nada, então não tenho exemplos mais novos.

Essas modelos do insta, muitas delas são meninas de classe média/alta que vivem de fazer publicidade para as marcas. Por mais que qualquer um possa usar as redes sociais e começar a criar conteúdo, para de fato, fazer dinheiro, ficar famoso, é necessário já ter algum dinheiro para investir nisso.

Ninguém que é grande começou do patamar zero, isso que é importante para a gente lembrar. Fico pensando o seguinte, será que a gente imitar esse povo, ficar acreditando que é possível viver de influencer postando todo dia, sempre com melhor equipamento, sempre com a melhor resolução, em todas as redes sociais, será que realmente essa é a melhor maneira de expor nossas ideias ?

Importante a gente dizer, não só quem é grande tem a produção de conteúdo profissionalizada, como esses influencers em si viram marcas. O espaço que as redes criam, em si, vira um mercado, assim como o shopping center e se dá melhor, quem tem o maior e melhor espaço para venda.

É sobre vender.

O que importa mais no final do dia é a quantidade de pessoas que se engajam com o seu conteúdo, porque no final do dia, vão ser essas pessoas que vão comprar os produtos que você vende.

Estamos notando um certo padrão, certo ? A internet reproduz uma série de valores do capitalismo neoliberal.

Isso cria uma situação de certo marasmo, tédio. Para chamar atenção, e atenção também é dinheiro, cada vez mais se apela para conteúdos mais extremos (no sentido de autenticidade, realidade, crueza). Vou citar o porno, mas não é diferente no resto da internet.

Toda vez é preciso fazer algo mais bizarro, por exemplo, o tamanho do dildo sempre precisa ser maior do que o outro. É sempre preciso aumentar o número de pessoas numa transa, colocar modelos cada vez mais peitudas e bundudas, homens com pênis e musculatura cada vez maior.

O de sempre se torna banal, por isso, por instância, o que é exagerado, histérico, ganha tanto destaque - porque chama atenção.

Você já tem um espaço que reproduz ideologia neoliberal, se de repente ela dá espaço para discursos extremistas, é fácil ver porque a internet quase sempre vira espaço da extrema-direita.

Enfim.

Eu tenho sérias dúvidas se é tão importante assim, estar o tempo todo presente nas redes sociais. Há quase esse dogma que é preciso postar o tempo todo em todo lugar e é preciso ter sempre uma opinião. Pior, que é sempre preciso estar dentro de um tipo de tendência.

A própria construção da fama online na verdade é muito mais uma questão de renda do que qualquer coisa.

Esses não seriam valores que nos são impostos ? Será que não é possível criar novos valores e de fato, ter uma comunidade que tenha de verdade, um sentido de pertencimento, proteção e cuidado ?

Será que a gente não pode ter uma comunidade online que tenha um impacto verdadeiro no mundo real ?

Quando a gente pensa nisso, logo vem os fachos e os ataques à escolas na cabeça. Na verdade, a causa não está na construção de nenhuma comunidade, está na ausência dela e no fato do Brasil ser um país reaça.

Como que a gente transforma um tipo de mentalidade, uma comunidade que nasce na internet, uma forma de pensar, em algo real ?

🐧🐙 𝔡ᶤⓖ𝓘𝓉aŁ 𝕃𝕒𝒾𝓃 𝓱卂Ş 𝓗Eℝ 𝕙คN𝒹𝓼 𝐀𝕣Øùn𝒹 𝔩ᗩ𝐈ℕ ίη Ŧʰ乇 ᗯ𝕚Ⓡ𝐞đ’𝐒 𝕥Ĥя𝕠Ⓐt. L𝔸Į𝐍 ιn 𝕋𝐇Ⓔ 𝐖ⒾⓇ𝕖𝔻 𝓼άY𝓼, “丨’Ĺ𝐥 ⓀᎥ𝐋Ⓛ MЎ𝐒乇ⓛf?” Ⓓ𝕀𝐠ίⓣᵃl 𝕝Δ𝓲几 𝕊𝔸𝔂Ŝ, “𝕨𝔥𝐲? 𝐖ђу ιᔕ 𝔂σย𝔯 乃𝕆dⓎ ร𝐨 ⓦ𝓐Ⓡ𝔪? 𝕎н𝓎 D𝑜 𝓘 Ƒ𝑒Ẹ𝓵 𝓨όǗℝ 𝒷σdㄚ 𝐓𝓔мⓟEᖇΔtUя𝔢?” ♧💲

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